Crítica Teatral


O Dragão de Macaparana - Por: Jória Lima
  A Cia. de artes Fiasco estreou com sucesso o espetáculo  O Dragão de Macaparana no dia 21.07.2011, no festival Amazônia Encena na Rua que aconteceu no Complexo Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

Foto AVENER PRADO
   O  público  entusiasmado  aplaudiu  de  pé  a encenação dos  artistas de Porto Velho que encantaram à todos com a dramaturgia de cordel, cultura que o autor, Fabiano Tertuliano Barros, herdou de seus pais e avós nordestinos.
   O espetáculo trata de um grupo de teatro mambembe que viaja pelas cidades aprontando muitas confusões. Valdinho e seu cavalo Burlúvio chegam à cidade de Macaparana onde o jovem se apaixona pela filha do Coronel mais perigoso do sertão. Para se ver livre da fúria do coronel e se casar com Tetinha, os dois forasteiros contam com a ajuda do lagarto Tonthico que pensa que é um camaleão. Juntos, os três vivem as maiores peripécias se fazendo passar por vários personagens, num inteligente e criativo jogo de metateatro.
  Ora são freiras, ora engraxate, D. Sebastiana, mulher fofoqueira, padre, príncipe, princesa, dragão, Jesus e até o capeta. A encenação contou com o cortejo de chegada em uma carroça, música original, pirofagia, acrobacias e desafio em forma de Côco de Embolada - gênero musical tipicamente nordestino. Todo o elenco mostrou muita garra e empatia com o público de rua abrindo espaço para a graça do improviso e da cumplicidade, o que levou os espectadores a se levantarem para aplaudir no final e encher os chapéus dos artistas de dinheiro.
   Os destaques vão para o Coronel interpretado por Allan Hallse, que com sua experiência com stand up dominou visivelmente o público, a versatilidade do ator Cláudio Zarco que interpretou o lagarto, Jesus, o Capeta, o dragão, a mulher fofoqueira e uma freira, e assim, como a expressividade e a simpatia de Eli Moreno (cavalo Burlúvio, D. Sebastiana, padre, engraxate) e do par romântico Lily Cavalcanti (Tetinha) e Lucas Grilo (Valdinho). Fica realmente impossível dizer quem foi melhor, o que significa um espetáculo equilibrado com elenco e direção profissionalmente maduros. Vale muito a pena conferir o trabalho dos nossos artistas que estarão em cartaz aos domingos no teatro de arena da E.F.M.M. a partir do dia 14 de agosto. Um programa para toda a família. E quem gostou vale rever!



Memórias da Carne ou o bom Drama noTeatro está de volta à Manaus - Por: Alessandro Cavalcanti 

                                                                   Foto RAFAEL LINS
    Marquem  esse  dia  em seus calendários. 20 de março de 2011, 00h00min. Onde: Teatro da Instalação. O quê: Circuito Alternativão. Peça: Memórias da Carne, com texto do cidadão rondoniense Fabiano Barros, da Cia de Artes Fiasco. Começa o dia em que passei a gostar de Teatro. 
    Procurem  por  essa peça. Memórias  da  Carne. Mas façam do jeito correto: quando forem convidadas a sentar no palco, dêem uma disfarçada e vão. Sentem na segunda fila, se possível no meio, mas tenha o cuidado de escolher uma boa cadeira, pois você ficará sentado um bom tempo. Esqueçam os pingos de água preta, concentrem-se no que as personagens falam e pensam. Concentrem-se na história, esqueçam de vocês por uma hora. Anulem-se como corpo, sejam só consciência, entendam o crime da história, a perversidade do castigo. Principalmente, esqueçam seus preconceitos, por uma noite.
  O texto pode ser explicado por vários vieses, mas prefiro dizer, tenham uma boa experiência. 
    Os atores Cláudio Zarco e Elí Moreno conseguiram o que queriam. Estavam felizes ao fim,
reconhecendo o dever cumprido.


Memória da Carne - Por: Chicão Santos

Foto MICHELE  SARAIVA

      Memória da Carne o novo trabalho da Cia de Teatro Fiasco de Porto Velho nos remete ao teatro das possibilidades, primeiro pelo lugar escolhido para sua realização a Faculdade Católica de Rondônia (antigo mosteiro), na rua Gonçalves Dias, no bairro Caiari, ao lado da Igreja Matriz. O salão superior recebe todas as sextas-feiras, 40 pessoas que se acomodam em banco e cadeiras rústicas para compartilhar com os atuadores Cláudio Zarco e Elí Moreno de momento claustrofóbico, misturando uma ação física do atores na tentativa caótica de fugir de suas próprias memórias. 

      Os fragmentos do texto proposto e o envolvimento psicológico da ação nos remete a uma territorialidade do isolamento e da impossibilidade da fuga do universo das memórias. Estamos presos à nossas memórias. O trabalho inova quando já na entrada o espectador é convidado a registrar suas memórias em filipetas e entregar aos atores quando da cena, misturando as já existentes nos “baldes das memórias”. A atuação dos dois jovens atores é impecável, carregada de emoções e sentimentos, revelando um potencial do ator criador e compositor de suas poéticas e das próprias ações. Memória da Carne é o conjunto de memórias encravada no âmago e no mais profundo isolamento da solidão humana. Não há como fugir de nossas memórias, são registros marcados na nossa própria carne.

    Nos aspectos dramatúrgicos o autor nos revela uma obra fragmentada e com solidez na força das palavras e nas suas intenções. É uma visão contemporânea de falar do que não é previsível e visível aos olhos. É preciso refletir e talvez fundamentalmente fazer essa conexão com as memórias existentes em cada minúsculo pedaço de nossa carne. Importante também falar da direção de Francis Madison que se alicerça no fundamento do teatro físico e no despojamento da cena, quase nada cenograficamente falando e o foco, o centro é a atuação dos jovens atores. Desta forma, constrói todo seu projeto de encenação na força que vem dos atores. É esperar sexta-feira chegar e sentir as memórias na própria carne.


http://www.rondoniaovivo.com.br/news.php?news=68711

Memória da Carne - Por: Rose Viegas

                               

Foto MICHELE  SARAIVA

     A produção, que tem direção de Francis Madison, é mais um espetáculo da Companhia de Teatro Fiasco, famosa na cidade por apresentar comédias, agora se afirma também na área dramática.
    Cada indivíduo tem suas próprias convicções, ideais, crenças e posturas. Mas, quem pode dizer que está certo ou errado diante de um mundo tão complexo e com tantas possibilidades de existência humana distinta uma das outra. A peça ‘Memória da Carne’ do dramaturgo Fabiano Barros está em cartaz em Porto Velho e busca despertar no espectador reflexões sobre a própria existência e seus conceitos e preconceitos.
    A produção, que tem direção de Francis Madison, é mais um espetáculo da Companhia de Teatro Fiasco, famosa na cidade por apresentar comédias, agora se afirma também na área dramática. O elenco traz Eli Moreno e Cláudio Zarco em uma atuação comovente que conta a história de dois jovens perdidos nas incertezas, lembranças e carências que invadem a vida de cada um. A proposta de aguçar a imaginação do espectador e ao mesmo tempo contribuir para uma reflexão do contexto em que está inserido é mais uma maneira de apresentar o teatro como fonte de informação e transformação social. O espetáculo é criado, dirigido e encenado por jovens amantes da arte e que sem incentivo público mostram a força do teatro de Porto Velho.                                                                                                               
     A ousadia da peça se caracteriza não apenas pelo forte texto e atuação em cena, mas também por iniciar temporada logo após o maior festival de teatro da região Norte, que foi o Palco Giratório do Sesc. Encenada na sede da Faculdade Católica de Rondônia, ‘Memória da Carne’ rompe o silêncio constrangedor de sentimentos íntimos e tão pouco abordados no dia a dia.
Memória da Carne - Por: Jória Lima


Foto MICHELE  SARAIVA

                     Onde se registra a memória afetiva na alma ou nas entranhas da carne? O que é mais imoral deixar morrer de fome ou masturbar-se? De que lado das grades está o verdadeiramente louco e o prisioneiro? De quem e de que forma nos permitimos dar e receber afeto na nossa cultura? A peça teatral Memória da Carne, uma produção da Cia. de Teatro Fiasco, dirigida por Francis Madison, que tem como dramaturgo Fabiano Barros e na atuação Eli Moreno e Cláudio Zarco, provocadiversos questionamentos como esses.

       A obra se desenvolve a partir de ramificações de estímulos que se cruzam desde o início do processo criativo: texto, impressões, memórias, ações físicas, dança contemporânea, psicologia cognitiva, a dramaturgia do espaço e vários olhares se superpõem sem se anular e sem subserviências, afetando o trabalho de tal forma que o resultado sai do lugar-comum das montagens realistas/naturalistas e se insere no rol de produções contemporâneas de vanguarda que levam o público a reflexões, gerando diversas ordens de inquietações. Dois homens em cena que estando num mesmo espaço estão separados entre si mas, unidos por necessidades mútuas de afetos, de  reconhecimento, de alimento para o corpo e alma. Um espaço não definido onde explodem memórias traduzidas em narrativas de rara beleza imagética como a extraordinária morte da mãe com uma estátua de anjo que lhe cai na cabeça durante uma procissão. Ao mesmo tempo, o exercício da memória revela o esquecimento de si. Desterritorializados os personagens vagam sem sair do lugar, em busca de repostas a questões metafísicas, revelando pensamentos provocativos como: Pra que servem os filhos? Para serem os pais que eles não tiveram, ou ainda, aquilo que amamos é o que nos mata.
     A dramaturgia de Fabiano Barros mostra-se contundente, ousada e explícita. A irreverente direção de Francis Madison revela fisicamente a inquietude que se passa no interior dos personagens e do próprio público num conjunto expressivo entre o texto, o contexto, o corpo e a voz. A atuação merece destaque pelo vigor, beleza física dos atores, disponibilidade e talento para darem vida a personagens tão complexos. O local das apresentações é um charme à parte e parece ter sido moldado para apresentações teatrais. Uma encenação à altura de festivais nacionais como o Palco Giratório, vale a pena conferir a produção local.


http://ro.noticianahora.com.br/ler_noticia.php?noticia=96454


Já Passam das Oito - Por: Jória Lima




     JÁ PASSAM DAS OITO, comédia que estreou no último sábado, 12 de junho, com a Cia de Teatro Fiasco, merece ser vista não só para prestigiarmos um autor local (caso raro que devemos relevar sempre, dada a difícil arte de escrever para teatro), mas para conferir a ousadia e a coragem que Fabiano Barros teve de trazer a público um texto baseado em fatos reais evidentemente elevados a enésima potência humorística e de aparente banalidade.

     Duas tias velhas e ciumentas de seu sobrinho, o qual impedem a todo custo que se case, o que a princípio parece banal é tornado cômico em virtude das hipérboles textuais e da excelente performance do elenco (Alexandre Lemos como Tia Nalda, Juraci Júnior como Tia Alda, William Bezerra como Valdinho e Andressa Romão como Maria Louisa) e a direção justa do próprio Fabiano. Devemos ressaltar também a elegância do figurino e cenário de Einstein Berguerand e a maquiagem precisa de Alexandre Braga, que aliás dá um show de interpretação de tal modo que chegamos a crer em vários momentos que se trata mesmo de uma de nossas tias velhas, atuação na medida justa, o que é difícil de encontrar no gênero besteirol.
     Aliás, essa é outra discussão: o gênero. Li uma crônica há algum tempo intitulada “Quem tem medo do besteirol?”  de Andréa Trompczynski que nos chama atenção exatamente para o fato de que rir é algo de que todo mundo gosta e precisa mas, que alguns têm vergonha de assumir que riem do Tiririca, do Tom, das videocassetadas, do Caco Antibes, etc.
     E, caros colegas e leitores, eu devo confessar que durante muito tempo pertenci a este mesmo grupo de pessoas avessas ao riso fácil, felizmente a maturidade nos põe às avessas novamente, vemos o mundo com outros olhos, já distantes da necessidade de provar algo à alguém. Assim, definir o espetáculo como pertencente ao gênero besteirol pode ser um tanto perigoso porque pode afastar a intelligentsia local que preferirá continuar carregando seu Zaratustra de bolso sem nunca terminar de ler ou retomar a Montanha Mágica de Thomas Mann pela décima vez no capítulo um, enfim...para os quais rir é algo pecaminoso, privado, que só se faz escondido, quando ninguém mais está diante da tv.
     Felizmente nos libertamos desses e outros tabus para podermos sair de casa e rir sem culpa numa alegria compartilhada que o espetáculo teatral nos proporciona, nesta confraternização popular onde nos reconhecemos e degustamos a sensação apaziguadora de pertencimento de grupo.

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